E ele chegou...

De manhã já não se percebe se dormimos ou não...as horas já não são reveladas com o raiar do Sol. Um misto de confusão e depressão apodera-se de nós enquanto nos banhamos, vestimos e passado uma hora, saímos, vestidos com nossa roupinha formal que ninguém gosta de usar, mas curiosamente todos usamos. O caminho até à estação ao som de "Song 4 Mutya" é feito com outra cara, a depressão passa, o fato torna-se num problema menor e incontrolavelmente esboço um sorriso...o que faz as outras pessoas perguntarem-se qual será o problema daquele rapaz. O comboio chega...apinhado de gente, pela primeira vez depois das férias de Verão...o sorriso desaparece um pouco...é complicado faze-lo quando a pessoa ao nosso lado não utiliza desodorizante nem percebe que os banhos são agradáveis de serem tomados pelo menos um todos os dias ou quando uma senhora insiste em levantar questões sobre o facto dos jovens, essa cretinagem toda, utilizar mochilas que ocupam espaço e o preço do bilhete não ser diferente...enquanto brincam com um pequerrucho que brinca, grita e ri...e não pagam bilhete...como as mochilas.
Passada a primeira fase do percurso avizinha-se a mais complexa...o Metropolitano..aqui Setembro também chegou e a grande diferença é a falta de vista...A probabilidade de ocorrer um desmoronamento em cima de nós e levarmos com o leão do Marquês ou com uma grande catedral de consumo financiada por capitais espanhóis não é muito mas tal nunca está fora de questão...numa de "nunca se sabe". A "fome" já tão caracteristica do nosso povo por lugares vazios é já muito comentada, mas à hora de ponta deixa de ser uma vontade e passa a ser uma questão de sobrevivência, onde se faz o que for necessário de forma a chegar ao nosso destino sentados...é ver pequenas pessoas a aparecerem do nada com muitos sacos...se isto se tratasse de um livro de tolkien eles seriam os hobbits, mas não aqueles que vão pelo mundo e tentam salvá-lo...aqueles que ficam em casa, na sua terra, sem qualquer ambição de mudar. Uma voz mecânica revela que tenho de sair na próxima estação..eu e 500 milhões de pessoas...mas todos tem de ser os primeiros a sair...a porta abre e a corrida começa...velha coxa é ultrapassado por ceguinho que bate com a bengala em quem passa a frente, jovem com mp3 a andar tranquilamente é empurrado, esmurrado, cuspido, pisado, por executivos, cabeleireiros, miúdos que choram e berram, mas tudo na maior das naturalidades..chego ao emprego, passo o cartão, subo as escadas, sento-me e só penso "Estou cansado...preciso de um café"...e são só 8h30!!